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O Espiritismo não cria a renovação social


Atualmente a Terra passa por grandes transformações isso inclui naturalmente todas as instituições. Lembrando que “Instituições” são estruturas ou mecanismos de ordem social, que regulam o comportamento de um conjunto de indivíduos dentro de uma determinada comunidade. Instituições são identificadas com uma função social, que transcende os indivíduos e as intenções mediando as regras que governam o comportamento vivo.

A título de informação podemos então definir alguns tipos de instituições. Vejamos:

1. Casamento e a família;

2. Religião e instituições religiosas -

3. As instituições políticas incluem os órgãos e os partidos políticos;

4. As instituições educacionais são as escolas, universidades etc.;

5. As associações;

Neste contexto e diante da “pandemia” mundial e mais especificamente o COVID19, torna-se necessário individualmente ou na coletividade das instituições, desenvolvermos novos mecanismos de relacionamento visando preservar a Vida e seus valores.

Neste momento então uma reflexão desponta para análise:

QUAL O PAPEL DO ESPIRITISMO NA RENOVAÇÃO SOCIAL?

Duas colocações de Kardec são fundamentais para chegarmos a uma resposta.

1) Na primeira, Kardec afirma:

a. “Por meio do Espiritismo, a Humanidade tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral que lhe é consequência inevitável.

2) Na segunda, Kardec através dos Espíritos diz que:

"O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto, do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração; por isso, é ele contemporâneo desse movimento."

Seria ingenuidade pensarmos que toda a humanidade se tornaria espírita ou se apropriaria do Espiritismo e, a partir daí, mudaria seus paradigmas de vida, operando-se a tão sonhada renovação social.

Ele atribui esse processo de mudança a “madureza da humanidade”, ou seja, a um estágio de superação da adolescência. Partindo da teoria espírita da evolução, Kardec nos autoriza a fazermos uma analogia entre o desenvolvimento do indivíduo e o da sociedade global.

Assim como o crescimento individual se opera por fases (infância-adolescência-madureza), também a humanidade conquistaria sua maturidade passando, inicialmente, por outros estágios. Mas Kardec alude que o Espiritismo é “contemporâneo” a essa “transição” e, portanto, possui condições apropriadas para “secundar” (ajudar, auxiliar) esse processo.

Mas para que isso ocorra torna-se necessário uma “revisão” do Movimento Espírita que anda muito, mas muito distanciado das bases primitivas da Doutrina Espírita com Kardec.

Precisamos entender que:
O Espiritismo "Não é uma seita política, como não se trata de uma seita religiosa; é a constatação de um fato, uma doutrina moral, e a moral está em todas as religiões, em todos os partidos. (Allan Kardec Viagem Espírita 1862)

Aqui cabe um destaque sobre “religião” que oportunamente será mais aprofundado, mas a título de curiosidade, aquela ideia de religar a Deus precisa ser revista uma vez que “Historicamente foram propostas várias etimologias para a origem de religio. Cícero, na sua obra De natura deorum, (45 a.C.) afirma que o termo se refere a relegere, reler, sendo característico das pessoas religiosas prestarem muita atenção a tudo o que se relacionava com os deuses, relendo as escrituras... Mais tarde, Lactâncio (século III e IV d.C.) rejeita a interpretação de Cícero e afirma que o termo vem de religare, 'religar', argumentando que a religião é um laço de piedade que serve para religar os seres humanos a Deus. No livro "A Cidade de Deus" Agostinho de Hipona (século IV d.C.) afirma que religio deriva de religere, "reeleger". Através da religião a humanidade reelegia de novo a Deus, do qual se tinha separado.

Mas depois voltaremos em outro momento sobre o assunto.

É necessário então entender a proposta de Allan Kardec e os Guias que sobre a orientação do Espírito de Verdade organizaram a Doutrina Espírita. Desta forma a “releitura” é necessária, e como dizia Rubem Alves “Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”.

A obra de Kardec como diz Vianna de Carvalho em Enfoques Espíritas, ainda é uma grande desconhecida dos Espíritas – triste realidade.

Mergulhando então nas obras originais de Kardec temos orientações necessárias para quebrar os paradigmas do Movimento Espírita.

O livre pensamento, na sua acepção mais ampla, significa livre exame, liberdade de consciência, fé raciocinada; ele simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física; ele não quer mais escravos do pensamento do que escravos do corpo, porque o que caracteriza o livre pensador é que ele pensa por si mesmo e não pelos outros, em outras palavras, que sua opinião lhe pertence particularmente. Pode, pois, haver livres pensadores em todas as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre pensamento eleva a dignidade do homem; dele faz um ser ativo, inteligente, em lugar de uma máquina de crer. (Allan Kardec - Revista Espírita fevereiro 1867).

Assim entendido, podemos reafirmar com tranquilidade, sem nos preocuparmos com as ideias contrárias que:
O Espiritismo não é, pois, uma religião: de outro modo teria seu culto, seus templos, seus ministros. Cada um, sem dúvida, pode se fazer uma religião de suas opiniões, interpretar ao seu gosto as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova Igreja, há distância, e creio que seria imprudente dar-lhe a ideia. Em resumo, o Espiritismo se ocupa com a observação dos fatos, e não com as particularidades de tal ou tal crença, da procura das causas, de explicações que esses fatos podem dar de fenômenos conhecidos, na ordem moral como na ordem física, e não impõe mais um culto aos seus adeptos do que a astronomia impõe o culto dos astros, nem a pirotécnica o do fogo...(Allan Kardec, Revista Espírita, maio 1859)

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas mesmas relações.

Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. (Allan Kardec - O que é o Espiritismo, Preâmbulo.)

Concluindo este primeiro artigo estudo:

Se o conhecimento espírita oferece valiosos elementos para auxiliar o aperfeiçoamento dos indivíduos, também é verdade, que esse é um processo pessoal e que cada um possui seu ritmo próprio. As crises, os conflitos, as angústias e sofrimentos, também possuem o papel de estimular essas renovações. Essa mudança é naturalmente lenta, pois sedimentada numa nova ética comportamental.

Sobre isso, Léon Denis foi enfático ao considerar:

“A influência do Espiritismo no progresso da sociedade se processa, não no estímulo à luta de classe, mas no campo íntimo, ampliando os horizontes sobre a natureza humana e sua destinação”.

É comum pensar-se que as mudanças sociais se operam, tão somente, por revoluções, decretos políticos, ou por abalos apocalípticos. O Espiritismo, no entanto, coloca o sujeito no centro dessa questão, atribuindo-lhe a responsabilidade por aperfeiçoar seus impulsos e desejos.





Fontes de pesquisas:
Allan Kardec e suas obras
Leon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 
Enfoques Espíritas – Espírito Vianna de Carvalho UP Curso Ciências das Religiões

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NOTA DO PORTAL GARANHUNS ESPÍRITA
Acrescentamos abaixo, trecho da Revista Espírita, de 12/1868 (Sessão anual comemorativa dos mortos), para cotejamento do leitor em relação ao presente texto:

Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores; no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre as mais sólidas bases: as próprias leis da Natureza.

Em outros trechos, tanto da RE, quanto dos outros livros, Kardec explica o conceito de religião não atribuído ao Espiritismo na sua época.

Assim, além deste trecho citado, remetemos o leitor para que leia e estude as obras de Kardec, que não devem ser consideradas como apenas 5 livros.

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